Se fizermos uma lista dos materiais acústicos e térmicos mais utilizados, certamente encontraremos estes dois materiais. Sua popularidade se deve não só pelo desempenho acústico, mas também pela versatilidade que estes materiais apresentam. São encontrados praticamente em todas as lojas de construção, mas no que diz respeito ao seu desempenho acústico, ainda existe mais crenças do que informações concretas.
Lã de rocha e lã mineral
Como diz o próprio nome, a lã de rocha é um material formado pela fusão de diversos tipos de rocha (areia, rocha basáltica e etc), escórias, vidro e outros materiais à uma temperatura aproximada de 1500°C [1]. No mercado, este material pode ser encontrado em duas formas: em placas semirrígidas ou em mantas, com diversas espessuras e densidades. As placas são comumente utilizadas em controle de nível de pressão sonora ou em controle de tempo de reverberação nas mais variadas aplicações enquanto que as mantas são comumente colocadas entre estruturas de paredes duplas com o objetivo de prover o isolamento acústico e térmico necessário para a aplicação. Um outro detalhe acerca destes materiais é que eles são considerados incombustíveis, ou seja, podem ser utilizados sem risco de agravar incêndios e tem uma alta temperatura de fusão, o que é extremamente interessante em aplicações industriais onde o material é exposto a altas temperaturas.
Seu desempenho acústico varia diretamente com a densidade do material. Densidades mais baixas levam o material a um desempenho menor do que densidades maiores. Ou seja, é falso considerar que o material terá sempre a mesma performance acústica sem antes considerar densidade e procedência da manta ou placa. No caso das mantas, sua performance também varia com densidade e espessura quanto à absorção sonora, mas como estes materiais são comumente utilizados em sistemas para isolamento acústico, densidade e espessura tem pouca contribuição para o sistema como um todo, mas é importante que o material tenha uma densidade mínima para evitar que se acumule no piso após a instalação das paredes.
Um problema no uso destes materiais está no seu alto potencial de risco à saúde humana. Embora alguns estudos feitos na década de 80 [3] não tenham sido conclusivos acerca do potencial de risco à saúde humana quando as fibras deste material entram em contato com o sistema respiratório, outros estudos mais recentes têm sido cada vez mais enfáticos no que diz respeito a estes materiais. Em um estudo realizado em 2009, os autores Kudo et al. concluíram que as fibras de lã de rocha, quando em contato com o sistema respiratório, apresentam potencial carcinogênico associado ao seu tamanho e espessura [2]. Em um outro estudo mais recente, conduzido em 2018, identificou-se que asbesto de crisotila, um dos componentes de lãs minerais, já proibido em alguns países, provoca dano no DNA de células retiradas do pulmão de hamsters expostos a esta substância [4]. O estudo identificou ainda que lã de rocha, material dito menos danoso que as lãs minerais, também provocam danos no DNA das células destes mesmos animais, embora menos que o seu predecessor, a lã mineral.
Mesmo que hajam estudos contundentes acerca do potencial de risco destes materiais, o governo brasileiro ainda não se manifestou sobre a proibição de lãs de rocha e lãs minerais. De qualquer modo, o STF já reconheceu, em 2017, o risco que a crisotila apresenta à nossa saúde. Neste ano o STF proibiu a comercialização em todo o país de produtos de amianto que usam crisotila em sua composição [5]. Embora não se tenha registro de como isto influencia a comercialização de lãs minerais que utilizam este material, é importante ressaltar que o motivo da proibição são os mesmos indicados por estudos que associam a lã de rocha e a lã mineral ao câncer de pulmão, laringe e ovário.
Em resumo, existem motivos muito fortes para acreditar que lã de rocha e lã mineral apresentam sérios riscos para a saúde dos trabalhadores responsáveis pela fabricação e manipulação do material e para quem convive com este material no dia-a-dia. Por isso, é aconselhável que este material seja evitado sempre que possível quando em aplicações onde haja o contato direto do usuário com o material. Uma alternativa bastante interessante ao uso das placas convencionais de lã de rocha são as placas ensacadas. Apesar de serem revestidas com material plástico, o desempenho em termos de absorção da placa não é afetado e muito menos seu desempenho quando a placa ensacada é utilizada dentro de sistemas de paredes duplas.
É importante salientar aqui que a lã de rocha é um material com um ótimo desempenho acústico, deve-se apenas tomar alguns cuidados com relação à sua exposição uma vez que os riscos são reais e já documentados em vários estudos.
Lã de vidro
A lã de vidro é obtida através da fusão da areia, barrilha, calcário, feldspato e aditivos, mesmos ingredientes do vidro. Além destas substâncias, podem ser encontradas algumas impurezas na composição do material assim como outras substâncias adicionadas intencionalmente, como é o caso dos corantes [1]. Assim como a lã de rocha, a lã de vidro também oferece resistência ao fogo por ser um material incombustível e, consequentemente, atende a todas as exigências feitas pelo corpo de bombeiros com relação a materiais de revestimento em locais onde há aglomerações e circulação de pessoas.
O desempenho acústico destes materiais também é determinado pela sua composição, orientação das fibras, dimensões das fibras e densidade. Tipicamente estes materiais possuem uma absorção sonora ligeiramente menor se comparados à lã de rocha. Mas quanto ao seu desempenho em sistemas de paredes duplas, não há distinção entre a lã de vidro e a lã de rocha. Porém, é possível encontrar a manta de lã de vidro a um custo inferior, sendo isto, em partes, o grande responsável pela sua popularização no mercado brasileiro.
A lã de vidro é um material incrivelmente versátil e que existe sob as mais variadas formas no Brasil. É possível encontrá-lo na forma de mantas, feltros ou até mesmo aplicado por processo de jateamento. No que se refere ao seu potencial de risco à saúde humana, ainda não está claro se realmente há algum. Mas é importante lembrar que a lã de vidro, durante a sua manipulação, libera diversos fragmentos do material no ar e na pele dos responsáveis pelo seu manuseio, desencadeando diversas alergias e processos de irritação da pele. É extremamente importante que esse material seja manipulado com uso de EPI como luvas, roupas adequadas, óculos e máscaras.
Embora ainda existe muita crença sobre estes materiais, é sempre importante analisar o contexto em que esse material é fabricado e exposto aos usuários. Se mesmo sob todos os riscos ainda haja a preferência em utilizar um material com potencial carcinogênico, é interessante assegurar que o material não ficará em contato com o ar livre e que os trabalhadores utilizem, durante todo o processo, equipamento de segurança adequado.
A Lã de vidro e a lã de rocha no projeto acústico
Tanto a lã de vidro quanto a lã de rocha são materiais extremamente importantes dentro do contexto do projeto acústico, seja no isolamento ou no condicionamento acústico. Estes materiais podem vir em diferentes formatos e com diferentes acabamentos estéticos que podem não só garantir a segurança do material como também a sua eficiência.
Um outro material que têm ganho bastante destaque na construção civil devido ao seu apelo ecológico é a lã de PET. A lã de PET difere dos seus concorrentes por ser um material hipoalergênico e que não apresenta riscos à saúde humana, além de ser um material feito do reaproveitamento de materiais plásticos descartados na natureza. Um problema desse material, no entanto, é a sua combustão. O material é combustível por ser feito de plástico, mas quando feito totalmente de plástico, sem adição de outras impurezas, ele apresenta classificação II-A, o que é o mínimo permitido pelo corpo de bombeiros para utilização em espaços onde há aglomeração de público. Se você está aqui e ainda tem dúvidas sobre como estes materiais podem ser utilizados no seu projeto para garantir desempenho acústico, não hesite em entrar em contato conosco. Nossa equipe de engenheiros e projetistas está 100% disponível para tirar dúvidas e encaminhar orçamentos sem custo para você e para sua empresa! Precisa de uma ajuda? É só clicar aqui embaixo e entrar em contato conosco!
Referências:
[1] MAGALHÃES, M. C. Fundamentos de Acústica Estrutural. São Paulo: All Print Editora, 2013.
[2] KUDO, Yuichiro; AIZAWA, Yoshiharu. Behavior of rock wool in lungs after exposure by nasal inhalation in rats. Environmental health and preventive medicine, v. 14, n. 4, p. 226, 2009.
[3] ROBINSON, Cynthia F. et al. Mortality patterns of rock and slag mineral wool production workers: an epidemiological and environmental study. Occupational and Environmental Medicine, v. 39, n. 1, p. 45-53, 1982.
[4] CUI, Yan et al. Chrysotile and rock wool fibers induce chromosome aberrations and DNA damage in V79 lung fibroblast cells. Environmental Science and Pollution Research, v. 25, n. 23, p. 22328-22333, 2018.
[5] STF PROÍBE EXTRAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE AMIANTO CRISOTILA NO PAÍS. Disponível em: <https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,stf-proibe-extracao-e-comercializacao-de-amianto-crisotila-no-pais,70002102051>. Acesso em: 15 de Fevereiro de 2019.
Comments